O nascimento de uma canoa havaiana

Preparativos para levar a canoa Ayra pela primeira vez ao mar na Praia de Itaipu. Março de 2013.
Dentre todos os meios de transporte, as embarcações são especiais. Não importa o tamanho ou a natureza a que se destinam, os barcos têm algo de diferente: eles recebem nomes.
Desbravar o desconhecido, viajar flutuando sobre uma fluida superfície com limites incertos e precisar dali retirar seu alimento levou o homem, desde os tempos mais remotos, a tratar com respeito e superstição o universo aquático. Para se lançar ao mar, o homem precisava confiar na proteção de seus deuses e na segurança de suas embarcações para acreditar que voltaria em segurança para casa.
Assim, as embarcações foram tratadas, desde os primórdios, como um membro da família - uma fortaleza de segurança no mundo desconhecido e cheio de intempéries que é o mar. A embarcação tinha a dupla função de transportar e proteger.
Na cultura polinésia o nascimento de uma canoa vem atrelado a uma série de rituais. Ao receber um nome, a canoa passava por uma cerimônia de batismo realizada por um sacerdote do povo, que na cultura havaiana era chamado de kahuna. Antes do formato atual como as conhecemos hoje, feitas em fibras de vidro ou de carbono, as canoas havaianas (ou polinésias) eram feitas com uma madeira chamada Koa (uma espécie de acácia havaiana) entalhada em um tronco só. Estes sacerdotes escolhiam a árvore que seria destinada para a construção das canoas e conduziam o ritual de batismo da mesma.
Mas no mundo todo, os barcos têm algo especial. Quando nascem para a vida, ganham uma identidade que os definem, ganham um nome e uma certa energia que os polinésios chamam de mana. Mas em qualquer mar e qualquer rio, podemos chamar de qualquer nome este sentimento especial que permeia o universo dos barcos.
Ayra é o nome desta minha canoa. A caçula de uma pequena frota de canoas havaianas com que me levam e trazem por esses mares afora. 




Ayra é um nome que significa “filha” em tupi. Ela nasceu da ideia de disseminar a prática da canoagem havaiana em Itaipu e da vontade de compartilhar com mais amigos este esporte. Uma canoa é concebida primeiro nas ideias, depois em um projeto, depois em um estaleiro, depois no seu batismo e, finalmente, no uso que damos a ela. Quando eu e Fabiano nos conhecemos, rapidamente ficamos muito amigos e descobrimos que tínhamos a mesma vontade de manter uma canoa em Itaipu e reunir um bom grupo de amigos para iniciar uma rotina de treinos naquela praia. E nasceu a ideia de uma canoa em sociedade, a nossa OC4 verde. 



Halau é a marca do nosso amigo Hugo Sanchez que produz, artesanalmente, lindas canoas havaianas com todo o mana e conhecimento que trás de suas experiências e aprendizados no Hawaii. Halau significa “casa da canoa” e é lá, em Jacarepaguá - no Rio de Janeiro - que ele faz nascer das nossas ideias e projetos as tradicionais canoas havaianas que imaginamos e desejamos.
As canoas sempre nasceram das florestas densas da Polinésia. Eram entalhadas a partir de árvores grossas escolhidas cuidadosamente pelo kahuna. Por isto no ritual de batismo misturava-se, em uma cuia, água doce – representando os rios das florestas de onde a canoa veio, e água salgada – para onde a canoa vai. A Halau fica nas encostas florestadas do Parque Estadual da Pedra Branca e, mesmo sendo feita de fibra de vidro, a Ayra nasceu do meio de uma bela floresta de Mata Atlântica no Rio de Janeiro.






De lá, atravessou o Rio de Janeiro confortavelmente em cima de uma pick up Toyota e chegou segura às areias da Praia de Itaipu, onde foi recebida com celebração pelo grupo de remadores que aos poucos cresce e se fortalece ali.


Depois de fazermos as amarras da ama, misturamos água doce do Santuário das Aparições de Nossa Senhora em Natividade com água do mar em um balde e cada remador jogou um pouco desta água e das suas próprias intenções e energias na canoa, que em breve iria para a água.
Nos rituais de batismo, costuma-se prender uma folha de ti, uma planta típica da Polinésia, na popa da canoa. Esta planta deve ficar ali até cair naturalmente durante as remadas. Para levar a canoa para a água pela primeira vez, os remadores devem segurá-la no alto e todos os remos devem ser de madeira, e não de carbono.














Os rituais de batismo de hoje não precisam de um sacerdote kahuna, mas precisam daquele mana de que falei: das boas vibrações das pessoas que estão em volta! Por isso a Ayra está muito bem batizada!




Aloha e até o próximo batismo!
Luiza Perin


Comentários

  1. Amiga Luiza, que alegria ler a história de Ayra. Eu @janainamoreiraonline e meu namorado @ruynesti batizaremos a nossa OC2 na próxima sexta-feira, 29/03. Estava procurando artigos sobre o batismo e nomes de canoas e encontrei seu blog. Parabéns a você e sua equipe! Um sentimento muito bom me alcançou ao ler seu texto. Quem sabe um dia enquanto estivermos em uma "moto trip" passamos por aí e nos conhecemos? Um beijo!! Mahalo!

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  2. Aloha Fabiano e Luiza!
    "Save the waves,"
    Acabei de adicionar o blog nos favoritos e já curti o layout.
    Depois vou dar uma navegada pra conhecer e deixo um feedback!
    Aquele abraço!

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  3. Olá gostei muito da matéria.onde também sou praticante aqui em minha cidade.pelo fato de ser apaixonado por canoa polinésia.quero me dedicar a construção das mesmas .e gostaria que me passassem algum contato para o aprendizado .obrigado e aloha.

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  4. Olá ! Meu Nome é Miguel Nobre e iniciei no Stan Up Paddle á cerca de 04 anos aqui em Fortaleza-Ce.Iniciei os treinos na Canoa Havaiana a duas semanas estou apaixonado . Wuem sabe um dia chego ae em Itaupu! para conhecer a Ayra, Abraços, Segue meus contatos : 85988524267 whatsapp, face : Miguel Nobre e instagran:supracemiguelnobre .
    att: Miguel Nobre- Aloha

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