Gaia - uma viagem à Lua

                                                                                                                 
Dia desses fiz uma viagem muito legal. Não durou muito tempo, mas chamei de viagem pelo encantamento da minha ida a este lugar, e tão longe ele era. Foi em uma linda noite de lua cheia... Um cenário maravilhoso e impressionante. Sim, a lua me impressionava. Ao olhá-la, conduzia-me suavemente para uma atmosfera distante, no mundo dos meus devaneios. Foi enquanto passeava pela praia. Apesar de estar me sentindo muito bem disposta, uma sonolência insistia em fechar meus olhos. Sentei na areia macia e fiquei a observar as nuances da lua. Ainda estava baixa e muito amarela, uma gigante bola de ouro. Não o dourado do Sol, ofuscante e irradiante. Mas um dourado que fazia questão em ser discreto. Essa discrição engrandecia a lua. 

Abaixei minha cabeça sobre os joelhos e olhei meus pés descalços. Que pé mais magrelo essa menina tem, dizia sempre minha mãe.  E brincando com meus pés na areia, enterrando-os e desenterrando-os, resolvi entreter-me neste  passatempo. Deitei-me de lado, apoiando a cabeça em uma das mãos e fazendo montinhos de areia com a outra. Não sei quanto tempo isso durou, mas ao olhar de novo para o céu, o cenário já havia mudado. A lua, agora mais alta, tornara-se branco e prata, em uma mistura de tons que lhe faria crer estar de frente para uma grande pérola.

No mar, então, desenhara-se um lindo caminho de prata vindo justamente em minha direção. Isso aconteceu! Era o reflexo da lua reluzindo no movimento marítimo. Lindo! Como queria poder fotografar aquilo. Será que havia mais alguém na praia admirando a lua como eu? Talvez alguns casais de namorados, imaginei. Em meio àquela imensidão escura que confundia céu e mar, cada onda que batia era um feixe de néon branco que se esticava, de dentro para fora, aumentando cada vez mais o seu comprimento até desaparecer e dar lugar ao próximo feixe. Era a lua a iluminar a branca espuma das ondas. Uma visão mágica! 

Não conseguia mais pensar em outra coisa se não na beleza lunar. Será que existe alguma forma de vida na vida na lua? Como será sua porosa superfície vista bem de pertinho? Mil perguntas confundiam-se com o sono que aumentava. Já não conseguia mais pensar... Meus braços escorregaram, deixando minha cabeça apoiada sobre meu ombro esquerdo. As pálpebras pesavam. Ainda relutei mais um pouco lembrando de um amigo que tinha uma luneta. Queria me transportar para a lua...

Até que alguém chamou meu nome. Quem seria? Estava tentando me acordar de um sono profundo. Pressionou suave e delicadamente a mão sobre meu braço e na mesma hora senti uma energia indescritivelmente positiva espalhar-se por todo o meu corpo. Algo como um fluido que se distribuía dos pés à cabeça, transformando minha vibração mais leve. Senti como se tivesse entrado em outro campo magnético, menos denso. Perguntou se eu queria viajar. Abri os olhos, levantei. Pegou-me pelas mãos e conduziu-me sem nada falar. Começamos a transpor o caminho de prata que se refletia no oceano. Chegamos em uma magnífica nave. Muitas luzes giravam e um som de avião voando sonorizava aquela cena. Estava ventando muito. No limite da porta, entre o nosso mundo e o interior da nave, olhei para trás e tive a sensação de ver um filme de toda a minha vida no Planeta. Mas o que vi, na verdade, foi meu corpo adormecido lá na praia, com a cabeça deitada sobre o ombro e uma das mãos parcialmente  enterrada na areia. Dormia profundamente. Olhei nos olhos daquele estranho ser e sorri. Ele contornou seus braços no alto de minhas costas, sorriu e fez um gesto positivo com a cabeça, mostrando que compreendia perfeitamente minhas expressões; e nós entramos na nave.

Quanto tempo aquela viagem durara? Não sei dizer. Percebi que haviam muitos deles lá dentro. Eram muito parecidos, mas podia identificar-lhes as diferenças olhando bem no fundo de seus olhos. Em suas retinas, cada qual possuía um desenho particular. Um deles, com uma flor muito linda estampada no olhar, aproximou-se de mim para pentear meus cabelos.  

De repente, aquele que me buscara na praia, convidou-me para apreciar com ele a vista da janela. Era um vidro muito grosso, e estava gelado. Percebi que estávamos aterrizando. E era na lua! Olhei para ele deslumbrada e vi que em suas retinas havia uma lua crescente.

Como estava descalça, pude sentir a textura da superfície lunar. Percebi que todas as perguntas e desejos que havia feito lá na praia estavam sendo realizados naquela viagem. Meus pés pisavam levemente em algo que parecia ser areia compacta, que não se deixa penetrar. Não era macia como a minha praia. O espaço sideral sobre minha cabeça parecia um manto de estrelas. Em curtos intervalos de tempo dezenas de cometas iam e vinham, atravessando as galáxias.  Não podia conter minha alegria! 

Corri para poder depressa conhecer tantas coisas quanto meus olhos pudessem ver. Estava eufórica. Até que deparei-me, sem dúvida alguma, com a cena mais linda que eu já vi em toda a minha vida. Distante... Esplêndida... A Terra. Era espetacular. Não existem palavras que expressem a magnitude desta visão. Meu coração disparou, fiquei ali, imóvel, mas ao mesmo tempo inquieta. Meu corpo transbordava de felicidade. Quanta paz somos capazes de sentir! Comecei a chorar de emoção. A Terra! A minha Terra querida parecia uma grande deusa azul. Como pode ser tão bela, a Terra? Terra bela e a ela eu berro: Eu te amo, Terra! Os extraterrestres riram-se da minha alegria. Como eram carinhosos esses seres. Senti que eram mais evoluídos que os humanos, pois tinham sensibilidades acentuadas para perceber as coisas mais sutis da vida. 

Começaram a me explicar novos conceitos que vão iluminar o meu planeta um dia. Falaram-me que a humanidade está caminhando para uma Nova Era, ainda que  lentamente. Mas já existe uma legião de boas almas trabalhando para o despertar desta consciência. 

A conversa havia sido muito construtiva. Sentia-me tão leve e feliz, que pedi licença para passear.  Com seus olhares mágicos de desenhos, olharam-me como se estivessem abençoando minha ida. Antes de virar-me de costas, porém, um deles pegou minhas mãos e me encarou de frente, nos olhos. Correspondi seu olhar e fiquei deslumbrada com seu desenho particular. Gaia... Era seu nome. Tinha nos olhos estampada a figura do meu planeta. Abraçou-me forte e me agradeceu. 

Caminhei, caminhei, caminhei...Vagava eu na minha própria mente. Um ímpeto me fez olhar para trás. E quando olhei vi a praia. Quando olhei para frente de novo, também era praia. Estava caminhando à beira d’água novamente, sentindo a areia molhada nos pés e a noite quente de verão. Ouvia agora o som das ondas. Caminhava de volta para casa.                                                                                                
Resgatei este texto dos meus guardados...
Foi escrito em 29 de junho de 2002.


Aloha e até a próxima lua cheia!!!

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